A dor do vazio - EU CURTO SER MÃE

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

A dor do vazio


A perda gestacional é um assunto difícil de ser tratado. As pessoas repelem as mães de anjos, não gostam de ouvir sobre o assunto. Quem perde um filho, perde muito mais do que o filho. Perde o espaço, o chão, as referências de si mesma. A fotógrada norte-americana Susana Butterworth, perdeu seu bebê, Walter, na 36ª semana de gestação. Susana criou o Empty Photo Project (Projeto fotográfico Vazio, em tradução livre), para dar voz a esta dor.

“Depois de perder meu filho em março de 2017, me senti sozinha no meu sofrimento. Eu achei que ninguém entenderia o que era perder uma criança. Parecia que todas as minhas esperanças e sonhos haviam morrido com o meu bebê. O vazio é pesado. Na esperança de criar um diálogo, comecei o Empty Photo Project. Eu quero dar uma cara e mostrar à comunidade que aqueles que já perderam um filho estão ao nosso redor, muitas vezes, sem o nosso conhecimento. É real. Não hesitemos em falar disso”, escreveu a fotógrafa no site do projeto.

Susana fotografa outras mães de anjos, que tiveram perdas  gestacionais ou neonatais, pedindo que segurem um espelho, que será alterado digitalmente para representar o vazio que é perder um filho. Os participantes escrevem um texto que descrevem seu vazio. 

Conheça algumas histórias:


“27 anos depois de sua curta vida, ainda me lembro como se fosse ontem. Eu era apenas uma garota de 24 anos, recém-casada e animada para receber um novo bebê na nossa família. Eu te dei o nome de Brittany Dianne. Você chegou cedo, com apenas 23 semanas de gestação, sem aviso e lutou muito para ficar nesta terra conosco. Tive essas 23 semanas com você e umas 4 horas da sua curta vida. Esses momentos passados com você que me transformaram na pessoa e mãe que sou hoje. Mantenho uma caixa com suas coisas para me lembrar que você me fez mãe. Eu não sou a mesma pessoa que costumava ser e isso é bom. Eu sei que a vida é preciosa e nunca deve ser considerada como garantida (...). Até hoje não entendo algumas das razões que as pessoas me davam para a sua morte. Comentários difíceis, como “você é jovem’, ‘você pode ter mais bebês’, ‘basta pensar em todo o dinheiro que custaria para mantê-la viva’... Nenhum deles me ajudou a diminuir minha dor (...). Espero que você saiba que foi muito desejada e amada. Por sua causa, tenho compaixão por outros que sofrem esse tipo de perda”, Kimberly Kaye McIntyre.

“Perder uma criança é algo sobre o qual ninguém quer falar. Mesmo eu, na maioria das vezes. Eu tinha pouco mais de 18 anos quando descobri que seria mãe. Ainda estava me acostumando com a ideia, quando recebi a notícia que nenhum pai gostaria de ouvir; minha filha Sophia Lynn tinha um defeito no tubo neural que a impediria de sobreviver fora do útero. Por conta disso, foi me dada a opção de levá-la a termo ou de induzir o parto. Que tipo de escolha é essa? Os médicos não tinham dúvidas de que ela morreria assim que nascesse. Então, decidimos por induzir o parto. Do dia da decisão, ela ainda ficou na minha barriga por três dias. Não consigo nem começar a descrever o tipo de dor que senti nesse período, sabendo que eram as últimas vezes que passaríamos juntas. Ela ainda estava fisicamente ligada a mim, mas nunca me senti tão vazia em toda a minha vida. Eu não conseguia entender por que algo tão horrível tinha acontecido comigo. Por que ela tinha que ir tão cedo?”. Nome não divulgado.


“Você é perfeito. A história da sua vida não é. Quando pensamos nos nossos desejos, a realidade às vezes fica muito aquém das nossas expectativas e, se deixarmos que o mundo veja nossos sonhos, perceberemos que a vida nunca será tão bonita, quanto poderia ser.  Você me ensinou isso. Quando eu soube de você e seu irmão, minha imaginação foi longe! Eu estava tão animado imaginando como seria voltar para casa depois de um dia de trabalho e vê-los na frente de casa jogando bola, ou brincando de esconde-esconde.  Uma vez ou outra, para ser sincero, ainda imagino você com o seu irmão percebendo o caminhão chegar e correndo para os meus braços, com os olhos iluminados, gritando papai! Pouco tempo depois de saber de sua chegada, soube que você precisaria de uma cirurgia cardíaca, mas me falaram que seria simples e que tudo ficaria bem. Mas, foi mais difícil do que imaginei. Às vezes, a vida é mais difícil do que a gente imagina. Você me ensinou isso. Você lutou tanto e foi tão corajoso. Sempre que as coisas estão difíceis  e eu penso em fraquejar, me lembro de olhar para os seus olhos, quão forte você parecia, quão perfeito e isso me deixa mais orgulhoso do que nunca, pois você é meu filho e eu sou seu pai". Nome não divulgado.




“Nada jamais o preparará para a dor ou o vazio de perder uma criança. Um aborto espontâneo é toda a esperança e sonho que você tinha para o seu filho sendo esmagado em poucas palavras. É sentir que a culpa de tudo é sua (...). Observar o seu marido chorar como você nunca viu, nem mesmo quando ele perdeu o próprio pai, e pensar que, talvez, ele merecesse uma mulher com um corpo que funcionasse (...). Um aborto espontâneo é chorar às três da manhã porque os seus braços estão vazios”. Nome não divulgado.

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