Depois que a comoção vai embora, resta a dor solitária - EU CURTO SER MÃE

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Depois que a comoção vai embora, resta a dor solitária



Postei sobre isso no Facebook e achei que merecia uma reflexão mais elaborada. Olhando as homenagens à Chape, depois da tragédia que matou quase todo o time, fiquei pensando em quantas tragédias coletivas e individuais nos trouxe à comoção. Somo humanos, cheios de sentimentos (ainda bem!) e é fácil ter solidariedade com o sofrimento. 

Quando Francisco morreu, eu recebia mensagens, telefonemas, emails, recados de pessoas inúmeras, que nem conhecia. Incrivelmente, foram alguns que eu chamava de "amigo" que se ausentaram nesta hora. Mas isso é assunto para outro dia. Eu lia aquelas mensagens de gente de todos os Estados, fora do país, gente que viu o amigo do amigo do amigo comentar. Enfim, foi uma chuva de manifestações. 

Pessoas que eu não conheço mandaram celebrar missas para o Francisco. Pessoas que nunca verei, choraram a morte do meu filho. Pessoas que nem sei o nome rezaram pela sua alma e por mim, que jazia em vida. Tudo isso foi muito importante, juro! Eu lia aquilo e me sentia acalentada, acolhida em minha dor. Dia após dia, eu recebia flores, bolos, livros, bombons e muita, muita energia positiva,

Nem por um segundo eu duvido do sentimento dessas pessoas. Elas sofreram, sim. Tiveram solidariedade comigo, a mãe, que estava mastigada de dor. Agradeço imensamente a todas elas. Mas, e depois? Depois é o silêncio. Porque o luto não tem prazo de validade. Ele vai e vai e vai.. até se esvair. 

Com o tempo, sobra aquela pessoa que mais sentiu a morte. Como mãe do Francisco, digo, sem sombra de dúvidas, que eu fui a maior prejudicada. Isso não isenta meu marido, meus pais, irmão, amigos, primos, cunhados... de sofrimento. Sofreram, lógico. Mas, passado o tranco inicial, foram viver suas vidas. É natural. Digo isso sem o menor rancor. Mas eu olhava todos eles compartilhando alegrias nas redes sociais e pensava: o Francisco falta em mim. Em todos eles, ele já passou.... E doeu, Putz! Doeu demais!

Foi então que eu mergulhei na minha dor. Se era só minha, não dividiria com mais ninguém, até porque eu via a impaciência generalizada para que "parasse com o assunto", que deixava todos constrangidos. A morte é assim. A gente sofre com a notícia, chora no enterro, entrega para Deus na missa do sétimo dia e volta a viver normalmente. Não é? 
Nunca para uma mãe! Jamais! Isso porque o tempo fica paralisado. Nem sabemos quantos dias ou meses se passaram. A dor não olha calendário. Ela lateja, pulsa, sangra. Não te pergunta se é segunda ou sexta. Ela dói. E as pessoas que outrora te ampararam e choraram com você, já estão de volta às suas vidas, como tinha de ser. 

Minha amiga, mãe de anjo, este texto não tem uma resposta ou solução. Não tem...
Eu só consegui 'respirar" com o tempo. E precisei enfrentar todos me apontando o dedo e me dizendo que bastava de chorar.  Tolerando olhares desviados quando eu falava do meu filho. Muito depois que eu me senti excluída de contexto social. 

O tempo passa para todos. Mas para a mãe de anjo, todo dia é dia de dor. 

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