Após um ano de idade, o consumo de leite de vaca e derivados já é indicado para as crianças. Ricos em proteínas de alto valor, tem sabor agradável ao paladar e é uma boa fonte de cálcio. O problema é que há algumas pessoas que se sentem mal com o consumo do leite de vaca. Conversei com a pediatra Paulla Linhares, da clínica Doutor Agora, sobre APLV e intolerância a lactose, as formas de diagnóstico, tratamentos e sinais de alerta. Veja a entrevista.
1- O que diferencia Alergia a proteína do
leite (APLV) e a intolerância a lactose?
São patologias
completamente distintas. A Alergia a Proteína do Leite de Vaca (APVL) trata-se
de uma ALERGIA alimentar, semelhante a outras alergias como ao ovo, amendoim,
frutos do mar, entre outros. Ao entrar em contato com o alimento, nosso sistema
de defesa passa por uma reação anormal, não reconhece esta proteína e
desencadeia vários sintomas, que podem ser do trato gastrointestinal (diarreia,
vômitos, dor e distensão abdominal, sangramento nas fezes), do trato
respiratório (asma, rinite) e também manifestações de pele (como as dermatites).
Nela também pode ocorrer o fenômeno da anafilaxia, com o fechamento da glote.
Nessa patologia, qualquer quantidade ingerida pode causar sintomas, mesmo
pequenas doses. Acomete principalmente bebês.
Intolerância
a lactose se refere a DEFICIÊNCIA DE UMA ENZIMA, chamada de lactase,
responsável pela absorção da lactose, um açúcar presente em alimentos com leite
e derivados. Não há relação com o sistema imunológico, que é o nosso sistema de
defesa. Ao ingerir alimentos com lactose, a insuficiência da enzima
dificulta sua digestão, e causa sintomas principalmente do trato
gastrointestinal (diarreia, vômitos, dor e distensão abdominal). É mais comum
em crianças maiores, adolescentes e adultos. É dose dependente, o que significa
que a ingestão de pequenas quantidades pode não causar qualquer sintoma.
2- Quais as formas de diagnóstico?
Chegamos
ao diagnóstico após análise de vários instrumentos como: história clínica,
tempo de aparecimento dos sintomas, exames laboratoriais, entre outros. Na
APLV, usamos também os “testes de
provocação oral”, em que oferecemos o alimento contendo a proteína em doses crescentes e monitoramos as
repercussões clínicas, sob supervisão médica. Na Intolerância a lactose,
podemos também suspender este açúcar por algum tempo, e a simples melhora dos
sintomas pode configurar o diagnóstico.
3- Quais os principais
sintomas que devem alertar os pais?
Crianças
que se apresentam com sintomas gastrointestinais recorrentes como diarreia, vômitos, dor e distensão abdominal ou até mesmo
os bebês com sangramento nas fezes, baixo ganho de peso, devem procurar por uma
avaliação do pediatra. Aquelas portadoras de asma, rinite e dermatites também
merecem atenção, devido ao risco maior de apresentar essas patologias.
4- Como é
o tratamento?
Na
Intolerância a lactose devemos excluir ou reduzir este carboidrato da dieta.
Esta é a principal forma de tratamento.
Podemos também ingerir a enzima Lactase (em forma de comprimido ou
xarope) antes da ingestão da lactose, isto também permite a absorção do carboidrato.
É importante lembrar que na exclusão da lactose, muitas vezes abolimos a
ingestão de leite e derivados, sendo então necessário complementação de
vitaminas como o cálcio. Isto vai ser devidamente orientado pelo pediatra.
Na
APLV, bebês em que amamentam exclusivamente no seio materno, a mamãe deverá fazer
a dieta (excluir leite e derivados), portanto o aleitamento materno SEMPRE deve
ser mantido! Aquelas que se alimentam
por fórmulas infantis, vamos modificar por fórmulas específicas para a doença,
que consistem naquelas com proteínas hidrolisadas.
5- São
condições sem cura? A pessoa nunca poderá consumir leite e derivados ?
Não. A intolerância a lactose, excluindo-se as formas primárias e
congênitas (que são raras), a forma mais comum é transitória, e a criança volta
a tolerar a ingestão após algum tempo. Vale ressaltar, que nesta patologia, os
sintomas são dependentes da dose. Sendo assim, a ingestão de pequenas
quantidades de lactose pode ser bem tolerada e não ocasionar sintomas. Hoje em
dia, ainda temos um amplo mercado de leite e derivados isentos de lactose.
Na APLV, os bebês podem consumir leite, porém são fórmulas
específicas, que apresentam essa proteína hidrolisada.
6- Há uma
tendência a retirada de laticínios da alimentação sem comprovação de exames,
com a crença de que leite prejudica o organismo. Isso é real?
Não existe nenhum estudo
que comprove este benefício. O tema foi
pauta no último Congresso Brasileiro de Nutrologia, em que se afirmou “Não há
boas evidências para recomendar que
mulheres grávidas ou que estão amamentando mudem sua dieta com finalidade de
prevenir alergias em crianças “. Além disso, o leite apresenta nutrientes
importantes para a dieta da criança.
A principal forma de prevenção a alergias alimentares é o
Aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de idade e complementado até os 2
anos.
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