A fala é a concretização de um processo que começou desde os cinco meses de vida intrauterina, quando a cóclea, principal responsável pela audição, se forma. A criança recebe estímulos desde então, por meio dos batimentos cardíacos da mãe, da voz dela e de pessoas próximas. O processo de maturação auditiva, essencial para o aprendizado da comunicação oral, se desenvolve intensamente até os sete anos de idade. Quando observamos uma criança que ouve normalmente e demora mais de dois anos para falar as primeiras palavras, temos que analisar se ela não se comunica, se ela usa gestos comunicativos, se interage, se tem condições anatômicas íntegras do sistema sensório motor oral, entre outras. Uma demora a falar pode ter como causa pouca estimulação, como no caso de crianças que ficam com mães ou babás que falam pouco e não vão a escola nem tem irmãos, etc. Pode ser porque a família é bilíngue e ela tenha que processar duas línguas, ou então ela pode ser portadora de deficiência intelectual, motora. Cada caso é um caso.
Trocar as letras é normal?
Ao iniciar a fala, algumas crianças podem confundir fonemas parecidos, como o "pê" e o "bê". A discriminação desses sons é um refinamento do processo auditivo que pode vir a maturar até o sexto ano de vida, mas é desejável que até os cinco anos já esteja estabilizado devido ao processo de aletramento. A maior parte das crianças já fala corretamente nessa idade. Algumas demoram mais nesse processo e podem vir a ter complicações escolares. Uma minoria ainda carrega essa dificuldade até a vida adulta, devendo receber o acompanhamento adequado.
E se a criança gaguejar?
Durante o processo de desenvolvimento de linguagem é normal um período de disfluência fisiológica, que ocorre geralmente entre três e quatro anos. Nesse período a criança está processando diversas informações, como os sons que precisam ser emitidos, os significados, o sentido. Essa fala disfluente, entretanto, caracteriza-se pelas repetições e hesitações, normalmente sem esforços ou bloqueios presentes na gagueira. Os pais podem contribuir aceitando e valorizando os esforços dos pequenos, promovendo momentos comunicativos significativos e jogos verbais. Contar estórias, narrar acontecimentos diários, jogos simples como procurar objetos que começam com uma letra específica naquele ambiente, jogos de significados como: "O que compramos na feira?", "que objetos usamos na pracinha?", ou "o que rima com..." são indicados.
Uso dos gestos para se comunicar
Algumas crianças, já em idade de falar, podem preferir se comunicar por meio de gestos, apontando objetos que ela quer pegar ou fazendo sinais de sim e não com a cabeça. Nesse caso, se a deficiência auditiva estiver descartada, a indicação é que se estimule a produção oral de criança, não "aceitando" apenas gestos indicativos. Assim os pais, mesmo sabendo o que a criança quer, devem verbalizar a pergunta. Um exemplo, se a criança aponta para um filtro, o pai pergunta: "Você quer o que? Água?" e valoriza as emissões mesmo que de parte das palavras. Uma dica é retirar os objetos e brinquedos do alcance para ela ter que pedir. O gesto indicativo (apontar) é uma forma de comunicação bastante primitiva, mas se a criança passa a fazer gestos simbólicos, como uma gesticulação que indique estar bebendo água, já é um avanço com relação ao simples apontar.
Corrija se ela disser algo errado
Por mais que seja normal a criança trocar algumas letras durante o processo de aprendizado, é importante que os pais não se adaptem ao vocabulário da criança e a corrijam quando ela se equivocar, mas sempre de forma positiva, oferecendo na fala o modelo adequado. Se ela fala "tadeira", por exemplo, a mãe pode falar, "você sentou na cadeira?", "essa cadeira é alta/baixa'... E por aí vai. Isso é melhor do que repetir o padrão errado numa critica ou represália, dizendo coisas como "não é uma tadeira!", mesmo porque a criança não tem culpa de falar errado. Ela é apenas imatura, foi pouco/mal estimulada ou apresenta alterações diversas como as já descritas.
Causas comuns de alteração da fala
Além de deformidades da cavidade oral, os fatores que ocasionam alterações de fala podem ser também hábitos alimentares, hábitos deletérios (sucção digital ou de chupeta), respiração oral, falta de estimulação, traumas emocionais, modelos inadequados, deficiência auditiva ou mental, entre outros. Se você perceber que o seu filho está demorando muito para falar ou possui algum tipo de alteração suspeita da fala, procure um fonoaudiólogo.
Artigo de Solange Dorfman Knijnik
Fonoaudióloga - CRFA 4348/SP
Contato: solange_fono@bol.com.br
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