Você, mamãe, já foi surpreendida com pergunta parecida? Pois
é. Eu já. Há quem fique constrangido, pois trata-se de um assunto delicado. Na
primeira vez que eu ouvi, eu não tive tempo hábil para elaborar uma resposta, muito menos de ficar com vergonha, mantive minha cara
normal e logo soltei: “Foi pela união de uma célula da mamãe com uma do papai.”
– E para não dar brecha para outras perguntas que eu sei que não vou saber responder, eu sempre conto de um jeito
divertido com caras, bocas e gestos malucos. Criança adora isso! “No início você
era uma bolinha minúscula que só podia ser visto no microscópio. Depois você
foi crescendo e ficou do tamanho de uma semente de feijão.” – Neste momento
eles riem muito e fazem comentários engraçados. – “Depois foi formando as
perninhas e os bracinhos. O coração já até batia. E ao longo dos meses você foi
crescendo e ficando grandão e lindo. Você lá dentro mexendo, me chutando e eu
aqui fora te amando cada vez mais e ansiosa pela sua chegada. Eu precisava
deixar tudo pronto para te receber. Roupinhas, quarto, banheira, um montão de
coisas. Então depois de nove meses você chegou nesse mundão, porque você
cresceu tanto que lá dentro ficou apertado para você.” – Como eu já imaginava
que a pergunta ‘Como eu saí da sua barriga?’ viria em seguida, eu não fiquei
constrangida, pois usei a mesma estratégia, a de contar de maneira divertida
com alguns pontos de distração. “Olha, a emoção de te ver foi tanta que eu nem
percebi. Eu só sei que você estava chorando e no momento que o médico te
colocou no meu colo, você parou de chorar na hora! Foi muito emocionante. Eu percebi
que naquele momento você sentiu que eu era aquela pessoa que ficava conversando
com você quando estava na minha barriga.” – E emendo com outras perguntas para haver
uma interação.
E aí, me conta como era lá dentro? – Era quentinho e escuro.
Ou: Você me ouvia conversar com você? – Eu não me lembro.
Da mesma forma que eu fazia perguntas, eu também ouvia
perguntas. ‘Eu nasci de roupa?’ – Claro que não! Quem ia lavar suas roupas? Você?
E roupa pra quê? Nem tinha lugar pra guardar lá dentro! E como as roupas
chegariam lá? De mini navio? – Nessa hora ouve-se gargalhadas.
Eu sei que a resposta para a segunda pergunta não é muito
convincente para nós, adultos, mas dependendo do tom da sua voz que você usa e
da forma como você conta para a criança (de forma divertida ou abraçando-a e
beijando-a, por exemplo), ela fica satisfeita. Eu, particularmente, prefiro
omitir alguns detalhes.
E desta forma saímos deste assunto sem constrangimento e com
mais um tabu quebrado.
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