Amor em gotas - EU CURTO SER MÃE

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Amor em gotas

Amamentar sempre foi, para mim, a mais perfeita tradução do amor. Uma mãe fornecendo o alimento ao seu filho é de uma grandeza de sentimentos que nem sei definir. Nas minhas duas gravidezes, me preparei para isso. Tanto na parte física quanto na psicológica. Pouco tempo após o parto do Francisco, meus seios explodiram de leite. Minha mãe conta que essa imagem a marcou muito. Eu ali, com os seios vazando sem meu filho para mamar. Foi muito sofrido. O leite escorria na mesma proporção das lágrimas. Antes de secar, ele empedrou no meu seio trazendo ainda mais dor para o pior momento de minha vida.

Quando Iolanda nasceu, era uma questão de horna amamentá-la. Mas ela pouco ficou comigo após nascer, indo direto à UTI e, desta vez, meu corpo não respondeu imediatamente à produção de leite. Mas eu precisava fornecer isso a ela. Pequena e frágil numa incubadora, meu leite ajudaria para que saísse de lá rápido. Eu espremia gota por gota, com muita dor, até completar os 5 ml que eram necessários. A cada 3 horas eu me debruçava diante dela com o seio em uma mão e o potinho na outra e a cada gota eu depositava ali meus nutrientes, anticorpos e amor.

Somente no seu terceiro dia de vida ela pode vir ao seio e sugou um pouco, logo cansando. Ficamos durante dez dias nesta rotina de ordenha e mamadas breves. Quando ela finalmente foi para casa, pudemos vivenciar de fato o que é a amamentação e não demorou para meu seio rachar. Mesmo com toda a preparação que fiz e estudos sobre a pegada correta, o seio ficou machucado com o atrito da mamada em livre demanda. É aquele momento que você questiona tudo, junta com o seu cansaço e você fica ao ponto de dar uma mamadeira. A pediatra da minha filha foi o ponto exato de apoio que eu precisava e com a ajuda dela, seguimos amamentando, felizmente.

Iolanda começou a ter refluxo e novamente a amamentação foi colocada à prova. O leite materno é mais leve que as fórmulas e, portanto, volta mais fácil. Novamente a pediatra me socorreu e passei a ficar com Lola por uma hora e meia na vertical após cada mamada. Aos poucos, as dificuldades foram dando espaço à minha confiança e eu já amamentava feliz, sem dor, livremente. Andava com ela no sling amamentando como uma índia. Fazia tudo com ela agarrada ao meu seio. Amamentar passou a ser muito bom e libertador. Era fácil sair com ela e alimentar sem me preocupar em ferver nada, preparar nada. Só tirar o seio e pronto. A experiência me deu muita liberdade.

Decidida a seguir as orientações da Organização Mundial de Saúde, mantive peito exclusivo até seis meses. E isso incomodou muito, muito, muito as pessoas. Todos queriam dar água, biscoitos, chazinhos e até caldinho de carne de churrasco (sério!). Fui firme! Estava segura de minha decisão ser a acertada e mantive. Quando completou meio ano de vida, iniciou a alimentação e, novamente, as pessoas estavam prontas a criticar a continuidade do leite materno. No primeiro ano de vida, o leite (seja qual for) é a base alimentar e a comida é apenas complementar. Eu estava bem informada, não havia porque parar.

No aniversário de 1 ano, ela não comeu brigadeiros após o parabéns, ela mamou. Não me admiro com o espanto das pessoas diante da realidade de uma média de 52 dias de amamentação em nosso país. Mas de errado não havia nada. Era um bebê consumindo o melhor alimento para sua faixa etária. Nesta idade, comprei uma mamadeira e resolvi introduzir outro tipo de leite para reduzir as mamadas e permitir que eu pudesse deixá-la com outras pessoas sem mim. Mas foi inútil. Ela rejeitou todos os leites. Continuamos no peito, mas o que era livre demanda passou a ter horário estabelecido.

Quando ela fez 1 ano e 4 meses, começou a me esgotar a amamentação da madrugada. Eu pratiquei a cama compartilhada, o que foi ótimo, mas mesmo assim estava cansada. Resolvi retirar. Foi a parte mais difícil de todas.Ela chorou muito por dois dias e aceitou. A partir dali, comecei a trabalhar em mim o desmame e sabia que logo chegaria a hora. Lola entrou para a escolinha com 1 ano e 6 meses e foi então que reduziu muito as mamadas e o meu leite. Restavam apenas duas mamadas por dia: antes de dormir e às 6 da manhã. Quando ela fez 1 ano e 8 meses, tirei a mamada para dormir. Não foi tão difícil, mas sempre há uma dificuldade. E, agora, quando ela tem quase 1 ano e 9 meses, retirei a mamada da manhã. Sim, desmamamos.

Eu desmamei porque chegou a minha hora, porque eu não queria mais, porque estava ruim para mim. Cheguei ao ponto de me esconder dela e isso não é a relação que quero para nós. Em um dia de desespero, passei batom vermelho no seio e falei que machucou. Ela se comoveu tanto, fazendo carinho e dando beijos, que me arrependi. Achei melhor conversar com ela e explicar. Ela aceitou. O desmame foi gradual, sem grandes choques, mas firme em alguns momentos. Uma vez que foi dito o não, eu não volto atrás, mesmo com a insistência dela.

Quis compartilhar com vocês minha experiência de amamentação não para oprimir quem não amamentou (porque não quis ou não foi possível), mas para dar força àquelas que estão passando pelos tantos momentos em que pensamos em desistir. Não entro no mérito de ser melhor mãe quem amamenta ou não, mas é inegável que o leite materno é o melhor alimento que o bebê pode ter. Então, se for possível, insista, siga firme, busque apoio, busque ajuda, tenha em mente que as dificuldades vão passar e que depois fica leve, bom, fácil e prático.

Sempre que falo em amamentação me vem à mente o verso de Cazuza "ser teu pão, ser tua comida, todo amor que houver nesta vida..." É isso. Amor em gotas.

Um comentário:

  1. Que relato lindo.Eu tbm fiz de tudo para conseguir amamentar, mas não consegui ser tão forte e não dar mamadeira, não aguentei a dor inicial e foi alimentação mista até 2 meses(mamadeira de formula infantil e seio) aos poucos fui diminuindo a mamadeira até ficar só o seio, quando ele fez dois meses vencemos, eu consegui ficar só no seio e levamos até 6 meses exclusivo.Após 6 meses ainda demorei pra iniciar a alimentação pq queria curtir mais a conquista. Ele vai fazer 1 ano dia 1º de julho e mama direto e come comidinha, não come doces de industrializados só biscoito de maisena e as vzs polvilho. Amamentar tbm foi uma questão de honra duplamente pra mim: primeiro por causa da minha perda tardia e depois pq meu segundo bebê nasceu com lábio leporino e até nascer não sabíamos se eu poderia amamenta-lo pq havia a possibilidade de ter comprometido o palato, mas graças a Deus ele nasceu com o palato perfeito e assim não haveria maiores problemas na amamentação. Ficou internado 9 dias devido ictericia, treino para sucção e algum problema devido a sensibilização por causa da incompatibilidade do fator rh. Essa é a nossa história com a amamentação.Quando for a hora do desmame seguirei suas dicas.Abraço.

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